terça-feira, 26 de agosto de 2014
O Don Juan
O Don Juan nasceu antes mesmo de vir ao mundo, quando no sexto mês de gestação de sua progenitora, foi identificado seu sexo. O Pai
logo fez maior algazarra: “Esse vai ser macho igual ao pai”. Dalí em diante
todo tratamento e considerações de “macho” se dava a prole por vir: quarto
pintado de azul; carros de combate e tanques de guerras; bolas de futebol;
espadas... Coleção de Star Wars.
Quando foi para escola arranjou
“namoradinha”. Era o orgulho do pai: “esse é meu garoto”, “cuidado com suas
cabritas que meu bode está solto”, “é isso ai filhão”. Na telenovela ele via o
galã “pegando” várias garotas... Garotas. Garotas por todo canto, desde os
comerciais de cervejas às amantes de seu pai.
Seu pai podia ter várias
mulheres. Sua mãe só podia ter seu pai. Ficou confuso... Leu a bíblia: “... a
paixão vai arrastar você para o marido, e ele a dominará” (Gn 3,16); mesmo
casado com Rebeca Abraão tomou outra mulher chamada Cetura; por quatorze anos
de serviços Labão deu suas duas filhas, Raquel e Lia, a Jacó. (...)
Aos 13 anos, seu pai o levou a
boate da esquina e pagou a mais experiente prostituta. Afogaram sua inocência.
Ele gostou, voltou outras vezes. Adiante, conquistar era seu ofício. Ele sentia
necessidades de galantear, de provocar sorrisos, gracejos e arrepios na alma
feminina. Seu lema era “pegar e não se apegar”. Seu ego suplicava olhares
feminis, bocas entreabertas implorando beijos... Cheiro de pele. Na arte da
conquista, com seu olhar roubava inocências e incendiava corações; com sua
lábia eloquente persuadia meninas, mulheres e senhoras. Era apenas mais uma
para alimentar seu instinto de macho. Macho Alfa.
Prossegui sua busca tentando
provar para si mesmo que era possível conquistar mais. Ele destruiu namoros,
casamentos e causou intrigas. Conquistou mais... Mais.
Até que um dia se descuidou...
Apaixonou-se. Foi seu fim. Sentiu na pele a dor causada outrora. Chorou,
implorou e pediu amor. Recebeu migalhas...
Hoje é casado, pai de quatro
filhos e o mais fiel dos maridos.
Marcello Silva.
Chaval/CE - 2014
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Teu cheiro
(á H.T)
Sinuosa menina
nesse dançar de pernas, bailo
no compasso dos teus passos
minhas ideias vacilam
Esmaeço nesse teu cheiro de fêmea
- de pele... Água de colônia -
Em teus braços sou pecador
Hereges...
Renasço... Revivo em teus beijos.
Marcello Silva. 04 de outubro de 2013.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Anjo da Morte
Foi amor a primeira
vista. Reluzente como um anjo, ela sorriu ao vê-lo. Tinha um brilho
rubro como os lábios das mulheres do Bairro da Luz Vermelha. Seu
movimento ludibriante imitava o dançar das meninas do Moulin Rouge.
Entretanto, possuía a frieza típica de um serial killer.
Juntou dinheiro,
deu entrada e parcelou o restante em vinte vezes. Comprou sua assassina
em uma manhã fria de janeiro. Mal sabia ele que esta seria sua última
amante, seu amor derradeiro e o mais profano.
Enamoraram-se
durante meses numa paixão efervescida, comum em recém-casados.
Desbravaram a rotina e ingeriram estradas, rodovias, ruas ... Onde um
estava o outro se fazia presente. Galoparam mundo afora, era um Dom
Quixote em seu Rocinante. De tanta convivência, um era complemento do
outro, apesar da apatia dela
Era uma tarde
quente de julho quando saíram para seu último passeio. Ele feliz, ela
fria. Ela o excitou e ele concordou com a provocação e ambos voaram
sobre o asfalto... No segundo semáforo da avenida "xis", ela
inexplicavelmente, o lançou a um poste. Foi seu último contato... Seu
último adeus.
Ela a vinte metros dele permanecia fria, indiferente como um psicopata a observar o último suspiro de sua vítima. Assassina.
Marcello Silva, Parnaíba 2014.