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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Atevaldo Rodrigues | O homem que fotografa infinitos


Saudade e nostalgia de um tempo pretérito tatuado nas lembranças do poeta Atevaldo Rodrigues e ao mesmo tempo, visões futurísticas mapeadas com o sabor e o cheiro que só a poesia é capaz de ofertar a um homem. O Eu lírico de “Onde Termina o Infinito” é um menino sem camisa, calça surrada, de estilingue na mão, sentado em uma pedra à beira de um açude, observando o passar da vida interiorana, simultaneamente, é um homem de face fria chorando metáforas à noite sem estrelas. “A dor que nasce é tão funda / A alma quase se esvai” diz ele.

Os poemas são em versos livres e ritmos poéticos variados. Ora são curtos como coices e outras vezes, são ritmados com um solo de saxofone. As metáforas são ricas e apaziguadoras à alma-leitora que sonha e vibra a cada verso.

A simplicidade das metáforas e intimidade do poeta com as coisas simples da vida, o amor a família e amigos... são, sem dúvidas, a maior riqueza desta obra que provoca o leitor a reflexão sobre a essência da vida, o quão mágico e divino é o instante: saudade para quem viveu e curiosidade para aquele que ainda pode viver cada pedaço de vida imortalizado na poética do autor. Através destas metáforas, percebemos a dimensão de cada fração de segundo ao lado dos pais, irmãos, amores, casa, chão, cheiro de vó... Café.

Atevaldo fotografa infinito toda vez que escreve. Este lugar metalinguístico é onde reside todas as versões do poeta, do menino e homem. Lá na morada do fim, o poeta tem carta branca e um banco de madeira tal qual no café do Cazuza em Chaval, e ele é rei de suas metáforas, lembranças, saudades e com elas, o poeta brinca de criador de mundos paralelos.

“Onde Termina o Infinito” mora toda alma do poeta Atevaldo. Os poemas são convites a viajar a multidimensões oníricas, mas reais e talvez até cruas. Algumas metáforas são lâminas afiadas e quando menos esperamos, estamos sangrando como o poeta ao escrevê-las. Os poemas desta obra descrevem a cidade natal com suas pessoas, cheiros, gostos e trejeitos bucólicos típicos; fala das coisas desimportantes a olho nu e de valor imensurável; descreve o abstrato existencial que atormenta todo ser pensante neste plano: o que é o amor? Existe a morte? E Deus?.

Caro leitor, se tu leres esta obra e não chorar em alguma parte dela, desconfiarei da tua humanidade. “Onde termina o infinito” é uma dose poética necessária para nos manter vivo e compreender a importância dos sonhos, das utopias e das saudades.

Marcello Silva – Escritor