sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A Revolução das Mulas em Chaval

E um dia revoltaram-se a mulas em Chaval. Cansadas da lida e da vida oprimida que levavam na pacata cidade interiorana. Elas estavam farta de sobrecargas de pesos; de sucumbir o dia inteiro sob o sol quente sem direito a uma comida digna ou água fresca, sem falar nas chicotadas que sofriam rua a fora, aquilo era humilhante à ‘classe muleira’. Dali em diante estava decretado a revolução das mulas.

Chaval acordou diferente, ao invés dos cantos dos pardais, ouviam-se zurros pelas ruas. A concentração foi iniciada na Ponte do Lima seguindo a Rua Monsenhor Carneiro sentido Centro. Velhos slogans eram adaptados: “As mulas unidas jamais serão vencidas” e  “uma por todas e todas por uma” alem de alguns exclusivos: “por uma vida sem cabrestos”, “queremos milhos e água fresca” etc.

Deu-se a algazarra revolucionária, gritos (zurros) de protesto. Dentre as reivindicações estava: trabalhar oito horas diárias com direito a vinte minutos de descanso a cada hora trabalhada; transportar, no máximo, 400 kg incluindo o peso do condutor; não receber chicotadas (uma boa conversa resolveria); não trabalhar aos domingos...

O líder das mulas, de ofício nas mãos – melhor dizer nas patas – foi impedido de entrar nos prédios dos três poderes (Prefeitura, Fórum e Câmara) por motivos estruturais e óbvios, pois esses edifícios não foram construídos para deleite de quadrúpedes.

A cidade amedrontada ficou refém da revolução. O comércio não funcionou, uma vez que não se poderiam entregar mercadorias em domicílio. A construção civil parou, pois faltava transporte para transpor areia, cal, cimento... Tijolos e telhas não foram entregues. Chaval padeceu este dia, era uma ‘Tróia traída por seu cavalo’. Se a Segunda Guerra Mundial teve seu dia D, as mulas chavalenses também tiveram seu dia. Deixaram de lado a vida fatigosa e foram, por um dia, pégasos saltitantes pela cidade.

P.S.: Dizem que até o chefe do poder executivo municipal decretou estado de emergência na cidade por causa desta revolução.
 
Marcelo Silva - Chaval/CE. Maio 2013

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